Conhecendo Todas as Origens
Por: Sergio Inglez de Sousa
Quando falamos de uma determinada variedade de uva automaticamente pensamos na sua origem: Cabernet Sauvignon-Bordeaux, Pinot Noir-Borgonha, Chenin-Loire, Riesling-Alemanha, Sangiovese-Toscana e assim por diante.
No Novo Mundo do vinho, o encepamento não é tão rico em especificidades, mas poderíamos citar a revelação da Zinfandel na Califórnia, da Pinotage na África do Sul e da Torrontés na Argentina. A primeira tem origem europeia, a segunda é uma híbrida sul-africana produzida do cruzamento da Pinot Noir com a Hermitage (Cinsaut) e a terceira resultou de uma hibridação ocorrida naturalmente.
Por muito tempo pensava-se que a Torrontés seria a mesma Tarrantez da Espanha, mas estudos recentes incluindo análises de DNA mostraram finalmente a origem da Torrontés: esta variedade foi resultante do trabalho de abelhas silvestres na polinização cruzada entre videiras, um tipo de Moscatel com a Criolla Chica. É pois uma variedade tipicamente argentina.
Um traço que marcou os primeiros exemplares de Torrontés chegados ao Brasil foi o aroma excessivamente forte, às vezes enjoativo e grosseiro, coroando por um final de boca marcado pelo forte amargor.
Os tempos mudaram, a enologia argentina evoluiu e sua atividade vitícola alterou completamente esse quadro, entendendo a fisiologia da planta, preparando-a para produzir uvas de qualidade, colhidas nos momentos mais acertados.
Há alguns anos têm aparecido vinhos Torrontés que contrariam o perfil descrito e mostram mais delicadeza nos aromas, mais redondeza na boca e final sem aquele amargor. Isso animou vinícolas de maior densidade técnica a aplicar-se na produção de bons rótulos desse varietal.
A expressão dos vinhos da Torrontés vem de sua surpreendente adaptação e evolução nas províncias mais setentrionais como Salta, bordando encostas de altitudes expressivas, numa faixa que vai desde 1.700 metros em Cafayate até 3.100 em Payogasta, passando por 1.750 na Finca Chimpa, 1.890 em San Pedro de Yacochuya, 2.260 em Humanao, 2.490 em Cachi, e assim por diante.
Nas alturas desses vinhedos o clima oferece favores.
O primeiro deles está representado pela insolação mais intensa com maior atividade da fotossíntese durante o dia, gerando assim proteção contra os raios ultravioletas e infravermelhos em cascas de maior conteúdo de flavonas e clorofila. Para não se ter exageros, as videiras são podadas de tal sorte a manter folhas protetoras para os cachos.
Outro favor emprestado pela altitude reside nas temperaturas locais, que são altas porém temperadas porque não ocorre o efeito estufa pela falta de camada atmosférica. Daí porque as noites são bem frias, obrigando a maturação a seguir um ritmo mais lento. O contraste das temperaturas de dia e de noite determinam uma grande amplitude térmica, 18 a 22°C, responsável pela maior concentração de polifenóis, substâncias antioxidantes muito benéficas a nossa saúde.
A ausência de chuvas durante a fase de amadurecimento e colheita garante a concentração de açúcares na polpa da baga da uva.
Um vento soprando quase sem parar, chega até a 16 horas por dia, faz uma constante varredura dos fungos, insetos e outros elementos nocivos que poderiam se instalar nas folhas e nos cachos da uva.
Com esses fatores positivos, a Torrontés conhece seu nível máximo nos vales das alturas de Salta, e o vinho esbanja toques delicados de perfumes florais, notas frutadas lembrando lichia, boca refrescante e agradável.
No nosso clima mais quente, essa bebida aromática é um acompanhamento natural para pratos frescos como saladas, frutos do mar e cozinha japonesa, por isso mesmo, deverá ganhar muitos apreciadores no Brasil.
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