Começo esta
crônica afirmando que respeito o gosto pessoal, afinal como diz o velho ditado,
“o que seria do vermelho se todos gostassem do amarelo “? Isto é uma verdade em
todos os aspectos da vida, desde nossas preferências por certos alimentos,
passando para coisas mais simples como raças de cães, aromas de perfumes,
modelos de carro, tipo de esporte, e até algo mais complexo como o estilo/personalidade
das pessoas com quem nos relacionamos, e claro que o vinho não podia ficar fora
disto. Como jornalista especializado tenho a oportunidade de provar todas as
castas e os estilos, e nas degustações que realizo para a Go Where, ou mesmo nas
nossas confrarias, sempre analiso os exemplares pela sua complexidade e
harmonia. Para mim é fundamental que o gosto pessoal não deva interferir nestas
análises, e afirmo que, em muitas ocasiões, tecnicamente pontuei vinhos com
notas superiores a outros vinhos que faziam mais meu gosto pessoal. Nos últimos
anos presenciamos uma reviravolta no paladar
do público consumidor, especialmente o de formadores de opinião, e aqueles
vinhos “Parkerizados”, marcados pelo excesso de frutas maduras, álcool e
madeira perderam terreno para vinhos
mais delicados, elegantes e fáceis de beber, bem no estilo que antecedeu o boom
dos vinhos novomundistas acima citados. Algum problema com isto? Claro que não,
pois muitos deles nunca mudaram seu estilo, mantendo uma agricultura mais tradicional
com pouco ou quase não uso de químicos, e até mesmo mínima intervenção no
processo de vinificação, sempre usando as experiências seculares de produção.
Claro que o avanço tecnológico ajudou bastante, especialmente no que diz
respeito a higiene, e muitos destes tradicionalistas a adotaram em diversas
fases de seus processos de produção. Portanto, tenho uma certa dificuldade em
afirmar que existe uma nova onda de vinhos naturais e orgânicos e até acho que esta
rotulagem dificulta a compreensão destes exemplares. Os vinhos chamados de
naturais, orgânicos, etc, em sua maioria são elaborados em processos
tradicionais, onde existe pouca intervenção, tanto na viticultura como na
vinificação. Tudo fica ainda mais complicado pois alguns produtores certificam
seus vinhos e outros preferem não gastar dinheiro com isto. Mas o que mais me
incomoda, e foi o motivo desta crônica, e que sempre que acontece uma grande mudança,
vem acompanhada de radicalismo, no tema em questão são alguns
daqueles produtores que elaboram vinhos mais extremos onde na maioria dos casos
seu destaque se dá por terem algo diferente dos vinhos tradicionais, e
infelizmente muitas vezes trata-se de defeitos de vinificação. Certamente este
é um tema complexo e polêmico portanto vou
focar descrevendo apenas dois dos principais defeitos do vinho e suas
causas 1) Brett( Brettanomyces) Aroma forte de estabulo, suor, couro, etc –
Contaminação pela levedura
brettanomyces nas uvas, equipamentos ou
contenedores de guarda que poderiam ser reduzida ou eliminada se houvesse uso
de SO2 ou mais baixas temperaturas na armazenagem. 2) Acidez Volátil -Bactéria
acética que compromete o aroma e gosto do vinho trazendo aquele desagradável
toque avinagrado. Esta contaminação ocorre normalmente por falta de higiene no
processo de vinificação. Legislação europeia permite 1,2 g/litro, mesmo que na
média os produtores em geral trabalhem por volta dos 0,5g/l .
Muito bem,
este dois exemplos são tecnicamente reconhecidos como defeitos para os vinhos, entretanto, dependendo de seu estágio
de contaminação, podem dar mais complexidade aromática como é o caso do Brett
em rótulos conhecidos como ocorre com o Beaucastel Chateauneuf du Pape, e
Chateau Pichon Lallande apenas para citar dois casos, ou maior vibração no caso
da acidez volátil em rótulos como o Vega Sicilia , Musar, e o Penfolds . Então se racionalmente aceitamos estes
defeitos por que estamos discutindo este assunto? Por uma razão muito simples
já citada anteriormente: o radicalismo que muitas vezes acompanha o modismo.
Quando o defeito passa a ser extremo, como acontece com muitos destes vinhos que
eu apelidei de “Ripongas”, onde forte aromas de estabulo, bueiro, ou vinagre
passam a ser cultuados como diferenciação ou qualidade. Mas como gosto não se
discute, deixo para cada um de vocês analisar friamente os vinhos que tomarem e
decidir se te satisfazem. Particularmente gosto muito de vinhos com um pouco de
Brett quando a contaminação é baixa trazendo maior complexidade ao vinho como couro,
pelo animal, mas fugiria correndo de aromas de bueiro, suor forte, cachorro
molhado etc. Aceitaria a acidez volátil leve que traz aromas balsâmicos, frescor,
e vibração na boca, mas fugiria do vinagre, a não ser para temperar a salada.
Existe uma
série imensa de defeitos que poderiam ser usados como exemplo para esta crônica:
aroma de gás, verduras cozidas, aroma sulfídrico, diacetil etc etc mas estes
ficam para um post futuro.
Finalizo
dizendo que extremos não deveriam ser referência, Saúde !
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