22 de jul. de 2019

Vertical do Icono confirma mudança de estilo



Tudo na vida passa por ciclos onde os gostos e as modas mudam, e certamente o mundo dos vinhos não escapa desta verdade. Por muitos anos vivemos sob o domínio dos vinhos alcoólicos, amadeirados e extremamente frutados, os famosos fruit bomb, mas não por isto deixamos de encontrar vinhos mais delicados e leves. Os ventos mudaram e hoje em dia vemos que o politicamente correto?? são os vinhos mais elegantes frescos e fáceis de beber. Qual linha é a correta? em minha opinião nenhuma das duas que nos leve ao extremismo, afinal o vinho de ter aromas agradáveis e sua presença em boca deve denotar o bom balanço de sua acidez, taninos e álcool. Na semana passada recebi um delicioso convite para participar de uma degustação vertical do vinho “Icono” de uma das melhores e mais respeitadas vinícolas da Argentina a Luigi Bosca fundada em 1901 na região de Lujan de Cuyo por Leoncio Arizu. Os Arizu mantem o negócio familiar até os dias de hoje através de Alberto Arizu. E foi ele junto a seu enólogo Pablo Cúneo que no proporcionaram tal privilégio e que para mim confirmou que grande vinhos podem ser produzidos sob diferentes estilos e escolas. A vertical contou com 6 safras (2006, 2008, 2010, 2011, 2015 e 2017) todos elaborados com uvas Malbec e Cabernet Sauvignon de vinhedos próprios da Finca Los Nobles que conta com 50 hectares cultivados com práticas orgânicas e biodinâmicas. Vertical do Icono desvenda mudança de estilo

Alberto Arizu

Vamos a cada um dos exemplares provados:


Icono 2006 (*) - Rubi granada, extra tinto, leve halo. Balsâmico, fruta negra, violetas, pimenta, tostado e toque herbáceo. Na boca tripé acidez, álcool e taninos em perfeita harmonia, sedoso, corpo médio, final com frutas bem maduras lembrando ameixa e toque de tabaco. Um dos vinhos elaborados na época dos vinhos mais bombados mas que com o tempo atingiu seu ápice, o balanço de boca foi seu grande atributo seguido de uma complexidade aromática mais austera e senhoril foi um dos meus dois vinhos favoritos.

Icono 2008 (*) Granada visualmente mais evoluído que o anterior, No nariz, tabaco, frutas negras mais confitadas, toque herbáceo, e leve mineral. Na boca mais picante e anguloso, taninos ainda presentes, sensação alcoólica mais pronunciada. Um vinho que parece ainda não estar pronto pela presença mais intensa dos taninos, mas com corpo mais pesado final de boca gastronômico.

,Icono 2010 (*) Rubi, extra tinto, leve halo. Fechado, frutas negras maduras, tostado herbáceo, e floral. Na boca, alta acidez, taninos mais intensos, bom corpo retrogosto marcado por certo amargor que lembrava alcaçuz.  Um vinho mais anguloso que teve mais presença de aromas herbáceos e ligeira acidez volátil. Foi o exemplar que menos me agradou

Icono 2011 (*) Rubi intenso, sem halo. Frutas negras maduras, direto, mineral, especiarias, floral, e toque de alcaçuz. Na boca, ótima acidez, taninos presentes, encorpado, mas menos intenso que os anteriores final de boca frutado e mineral. Um vinho gostoso estruturado mas mais direto e contido típico de safra mais fria.

Icono 2015 (**) Violáceo extra tinto, sem halo. Frutas negras frescas, grafite, menta, e mineral. Na boca mais delicado, corpo médio e leve, mais moderno em certos momentos me lembrou mais um Cabernet Franc. Com o tempo de taça manteve o frescor e delicadeza prova que a boa acidez equilibrou seus 14,6% de álcool. Certamente colheita antecipada facilitou esta característica.  Foi meu vinho favorito juntamente com o da safra 2006

Icono 2017(**) - Rubi extra tinto sem halo. Limpo frutas negras, floral, fosforo, e menta. Na boca, boa acidez, taninos finos, presentes, sensação alcoólica mais pronunciada, corpo curto, final frutado e vivido, pontinha verde. Um vinho jovem que ainda precisa de tempo para aparar suas arestas especialmente a sensação alcoólica, com mais dois/três anos de garrafa deverá estar arredondado, e no seu auge de consumo.

Resumindo meus dois vinhos favoritos foram de estilos diferentes mas tinham em comum o perfeito balanço de boca e a complexidade olfativa.

(*) Vinhos com estilo mais estruturado e extraído
(**) Vinhos com estilo mais leve e delicado


Para mim esta prova  comprovou mais uma vez uma teoria que tenho, de que seja lá qual for o estilo do vinho, se ele for elaborado com boa matéria prima e o enólogo conseguir balancear o tripé acidez, taninos e álcool, teremos um vinho prazeroso. É claro que a manipulação do processo de produção as vezes pode mascarar defeitos, mas o tempo de garrafa irá desafiar estas correções. Durante a apresentação dos vinhos perguntei a Pablo como eles tem tratado a sabida falta de acidez dos vinhos elaborados na Argentina, pois somos sabedores que quase todos eles são acidificados no processo. A resposta é que hoje em dia com a colheita sendo feita mais cedo, e pelo fato da escolha do lugar certo para se plantar os vinhedos e as corretas variedades tem ajudado a gerar vinhos com melhor acidez natural, e que mesmo que ainda existam correções, é sensível a percepção desta acidez mais viva e refrescante.
Gostaria de terminar este post pedindo para que pelo menos no mundo do vinho tenhamos menos radicalismo e de generalizar algo que não pode ser generalizado, hoje estamos voltando a produzir vinhos como nosso avôs faziam, e abandonando o processo de vinhos mais estruturados que nos satisfizeram nos últimos 20 anos. Será que daqui uns 10/15 anos vamos voltar a este estilo? Particularmente sempre levo em conta o histórico do produtor pois longos períodos de sucesso normalmente comprovam a qualidade de seus produtos. Acho que a Luigi Bosca é um destes produtores que já não precisam provar mais nada pois seus vinhos são sempre de alta qualidade seja lá qual estilo foi adotado em sua elaboração. 
Preço de venda no Brasil: R$ 886

Decanter – Site: www.decanter.com.br  Fone (011) 3702 2020

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