Estou de luto morreu mais um sonho
Segue abaixo o desabafo de Carlos Arruda idealizador do blog Academia do Vinho em seu sonho de divulgar o vinho brasileiro Morreu o SITE DO VINHO BRASILEIRO, mais uma história triste nestes dias turbulentos do vinho nacional.
Cinco anos após o lançamento do Guia dos Vinhos Brasileiros (2001), a
Academia do Vinho decidiu novamente investir esforços na divulgação do
vinho brasileiro, usando o prestígio alcançado pelo site.
O
momento era propício -2006– com o espumante brasileiro conquistando
vitórias no exterior, muitas vinícolas consolidando sua atuação com
lançamentos de vinhos premium, e as regiões da Serra Catarinense e Serra
do Sudeste despontando como promessas de qualidade.
Naquele
momento, a seção Brasil da Academia era a única fonte de consulta sobre
as regiões vinícolas de nosso país, mostrando inclusive muitas vinícolas
e seus vinhos.
A notoriedade do site, com milhares de links
apontando para nosso endereço, levou diversos sites internacionais a
apontar para ela como importante espaço de estudo, pois era a única
fonte aberta disponível sobre o assunto – vinho brasileiro.
Na
época o IBRAVIN estava evoluindo sua atuação junto à comunidade
vinícola gaúcha, com o lançamento do Cadastro Vitícola do Rio Grande do
Sul, publicação técnica em CD-ROM com um levantamento extensivo de nossa
produção vitivinícola.
Como essa entidade ainda não possuía
um site com informações sobre o vinho brasileiro para os consumidores,
propusemos a eles a montagem e operação de um site completo, que
passaria a ser o site oficial de nossa vinicultura. Seria uma união de
forças para a informação do consumidor, ainda bastante preconceituoso
com nossos vinhos.
Essa proposta foi apresentada oferecendo
toda a montagem técnica e inserção de conteúdo bancada pela Academia,
cabendo ao IBRAVIN apenas um custo mensal de manutenção editorial do
site.
Vários meses se passaram e nos nossos contatos
constantes com a diretoria do IBRAVIN ouvimos que eles gostaram muito do
projeto e também confessaram sua total impossibilidade financeira para a
realização do site, devido à omissão do governo do RS nos repasses dos
recursos do Fundo Vitis, verba única de operação da entidade.
Vimos o IBRAVIN reduzir drasticamente o quadro de funcionários por falta de dinheiro...
Como forma de viabilizar o projeto, propusemos a montagem do site com
nossos recursos, conforme previsto e a criação de um fundo de manutenção
composto por uma taxa simbólica mensal de participação, paga pelas
vinícolas que desejassem participar do site.
O projeto previa
toda a gerência de conteúdo sobre vinícolas e regiões, premiações em
concursos, a publicação de editoria de notícias e eventos e também a
sinergia com o turismo ligado ao vinho.
O IBRAVIN entraria
apenas com seu apoio institucional junto à comunidade vinícola,
avalizando nossa proposta e garantindo o acompanhamento do conteúdo
publicado.
A proposta foi imediatamente aceita.
Investimos então dinheiro, tempo e energia à concretização desse projeto.
Partimos para uma série de visitas às regiões da Serra Gaúcha e
Planalto Catarinense, onde fizemos contatos com associações e vinícolas,
apresentando o projeto completo e recebemos de todos que visitamos os
maiores elogios à iniciativa.
A figuração das vinícolas teria o custo simbólico de mensal de R$ 39,00.
Uma de nossas viagens coincidiu com a Avaliação da Safra de 2006, onde fizemos novos contatos com vinicultores e entidades.
Terminamos essa jornada com amplo apoio ao conceito do projeto e o compromisso de participação de 94 vinícolas.
O grupo de Santa Catarina – ACAVITIS - não efetivou a participação
naquele momento e nunca o fez, por motivos (quase) desconhecidos.
De outubro 2006 a janeiro 2007 nos dedicamos integralmente à montagem
técnica do projeto e à reunião de informações sobre regiões, vinícolas,
concursos e entidades.
A publicação de notícias e eventos
sobre vinho no Brasil já era um dos pontos fortes do site Academia do
Vinho e intensificamos a pesquisa de matérias sobre o vinho brasileiro.
Nesse mesmo período começou a divulgação da Fenavinho 2007, a ser
realizada em fevereiro, e contribuímos gratuitamente para esse evento
com um anúncio na capa do site Academia do Vinho durante vários meses.
Em janeiro recebemos o contato do Vice-Presidente de Marketing da
Fenavinho, Diego Bertolini, que manifestou grata surpresa por verificar
que quase 50% do tráfego do site do evento provinha da Academia do
Vinho.
Como forma de agradecimento, a feira nos oferecia espaço para divulgar nosso trabalho.
Revelamos então nosso projeto para o Site do Vinho Brasileiro e ele
ficou bastante empolgado com a idéia de fazermos o lançamento na
Fenavinho.
Passamos a trabalhar para essa data.
O
IBRAVIN não concordou em usarmos o seu endereço na internet “Vinhos do
Brasil” e também em tratarmos nosso site como oficial, claramente
desvinculando nosso trabalho da entidade. Assim sendo, definimos o
projeto como Site do Vinho Brasileiro.
O lançamento na
Fenavinho conforme previsto, no dia 2 de fevereiro, contou com a
presença de autoridades e vinicultores (não muitos).
Nesse
momento tínhamos mais de 90 vinícolas publicadas, todas as regiões com
mapas e informações, um importante rol de notícias e eventos da
vinicultura nacional e a alusão explícita das parcerias oficiais com o
IBRAVIN e a Embrapa Uva e Vinho.
De imediato o Site do Vinho
Brasileiro se mostrou a única fonte completa de informações sobre a
vinicultura nacional e logo se tornou muito visitado, graças à força de
divulgação da Academia do Vinho.
Os esforços pessoais e
financeiros para essa realização foram gigantescos e o único caminho
possível era investir ainda mais para o crescimento do projeto,
acreditando no suporte dado pela comunidade vinícola e na promessa do
IBRAVIN de contribuir financeiramente para a manutenção do projeto
quando sua situação se normalizasse pela volta do repasse do Fundo
Vitis.
Um mês depois do lançamento, emitimos a primeira
cobrança geral para as vinícolas participantes. Para nossa surpresa, das
mais de 90 vinícolas com quem havíamos firmado acordo, apenas 36
mantiveram seu compromisso de participação.
Das restantes ouvimos diversas explicações, variando entre “nunca combinamos nada” até “não temos condições de participar”.
Um vinicultor de terno e sapatos italianos e uma Mercedes Benz estacionada chegou a pedir um “desconto” sobre os R$ 39,00.
Começamos a descobrir que, ao contrário dos nossos princípios, para
muitos daquele setor os apertos de mão são apenas cordialidades, não
significam compromisso.
Perante tamanha decepção, percebemos
que nosso investimento seria impossível de recuperar em curto prazo (se
fosse algum dia) e que a manutenção de todo o trabalho editorial não
seria nem minimamente remunerada.
Ainda assim decidimos levar
adiante o projeto, confiando em uma mudança de postura, na adesão
progressiva das vinícolas contatadas anteriormente e de outras
emergentes.
Teimosos? Cegos? Preferimos nos autodenominar otimistas.
Importante lembrar que o Site do Vinho Brasileiro não tem e nunca teve
nenhuma forma de publicidade, para ser uma fonte institucional de
informações totalmente isenta.
Todas as vinícolas, desde a
menor e estritamente familiar até a holding internacional, dispunham do
mesmo espaço de divulgação, com o mesmo destaque, a mesma possibilidade
de expor seus produtos, notícias e prêmios, pelo mesmo preço.
O
tempo passou e mantivemos nosso Site do Vinho Brasileiro em operação
como uma forma de suporte e incentivo ao Vinho Brasileiro, defendendo
nosso sonho de contribuir para a desmistificação e queda do preconceito
esse produto.
Temos plena consciência da importância da nossa atuação na mudança da postura do público nesses 5 anos.
Conquistamos uma média de 870 visitas diárias e a 8ª posição no Google para a consulta [vinhos].
Nesse ínterim diversas vinícolas abandonaram o projeto, alegando
“corte de verbas” e “ausência de resultados” e algumas poucas
ingressaram.
Temos pena de uma empresa que não pode investir 39 reais mensais em divulgação. Melhor fechar as portas...
Nosso agradecimento especial a Ademir Brandelli, proprietário da
vinícola Don Laurindo, primeira empresa que "comprou a idéia", acreditou
no potencial deste projeto e nos enviou material completo para
figuração.
Enquanto isso, o IBRAVIN mantinha sua pressão junto
ao governo do RS para conseguir as verbas de atuação definidas
oficialmente, então suspensas devido à caótica situação financeira do
estado.
Em todos os frequentes contatos reiteramos junto ao
IBRAVIN nossa dificuldade em manter o projeto em operação com a baixa
participação das vinícolas e ouvimos do Diretor Executivo Carlos Paviani
que “o momento certamente chegará para os apoiarmos”.
O jovem
e empolgado Gerente de Marketing da entidade, recém empossado, nos
externou a necessidade do instituto de ter um site oficial para o vinho
brasileiro e nos garantiu que quando tivessem recursos nosso projeto
seria absorvido e nosso trabalho passaria a ser utilizado no site Vinhos
do Brasil.
Uma proposta para essa atuação foi solicitada e
enviada prontamente, apresentando uma disponibilidade em aberto para
nossa participação dando continuidade à divulgação do Vinho Brasileiro.
Quando os repasses de verbas se normalizaram, nenhuma dessas promessas
foi cumprida, nossos contatos foram respondidos laconicamente e as
campanhas milionárias do Vinhos do Brasil foram ao ar.
Tivemos então a certeza de que ali os apertos de mão são apenas cordialidades, não significam mesmo compromisso.
Parece que tudo (marketing, design, holofotes, colunas sociais,
celebridades) é mais importante do que realmente fazer um trabalho sério
e completo de divulgação do vinho brasileiro.
O site Vinhos
do Brasil se tornou uma plataforma publicitária patética e as poucas
informações ali presentes sobre nossa vinicultura de forma nenhuma
representam a vinicultura nacional. É um desserviço ao verdadeiro
universo dos vinhos do Brasil divulgar essa plataforma, tanto no Brasil
como no exterior. É um resumo pobre e medíocre da enorme diversidade de
nossa produção.
O mapa das regiões vinícolas brasileiras ali
apresentado foi montado sobre a base cartográfica fornecida pelo Site do
Vinho Brasileiro, então solicitada pelo staff do IBRAVIN. Não há sequer
o crédito pela imagem.
Dinheiro não lhes falta para fazer um
trabalho primoroso. As campanhas apresentadas escoam verbas pelo ralo.
As agências de publicidade devem estar rindo de orelha a orelha.
Conhecimento técnico nós oferecemos, mas foi desprezado em favor de outras prioridades, sabe-se lá quais.
Nosso trabalho foi desprezado e não fizeram nada nem minimamente parecido. Uma pena.
É por absoluta incapacidade de manter esse projeto em atividade que finalmente abrimos mão desse sonho que virou pesadelo.
O trabalho é lindo, mas como já diziam nossas avós, beleza não põe a mesa.
Manter a atualização exige tempo e dedicação, que hoje pagamos para
fazer. Infelizmente temos contas a pagar, não dá para viver de
formosura.
Nesse momento em que decidimos encerrar a operação
do Site do Vinho Brasileiro temos apenas 17 vinícolas participantes, às
quais agradecemos vivamente o apoio:
Adega Chesini, Aurora,
Botticelli, Casa Valduga, Cave de Amadeu, Cordilheira de Sant`Ana, Dal
Pizzol, Dom Cândido, Don Laurindo, Lídio Carraro, Nova Aliança, Perini,
Salton, Sanjo, Valdemiz, Valmarino, Vinícola Góes.
Nós sabemos
o que vivemos, tudo que ouvimos, os compromissos que assumimos (e que
cumprimos integralmente), os compromissos que assumiram conosco (e que
não foram cumpridos) e dormimos em paz com isso. Nossos princípios de
seriedade foram honrados até o ultimo minuto, mesmo com os que não
retribuíram na mesma moeda.
Aqueles que acompanharam conosco esse conto-de-fadas-sem-final-feliz sabem perfeitamente que este relato é a mais pura e triste verdade.
Nessa jornada fizemos grandes amigos por quem continuaremos a ter o
maior respeito e carinho, mas também aprendemos da forma mais difícil
sobre a mediocridade da alma humana quando contaminada pela doença da
vaidade e da defesa aos interesses próprios.
Essa é a despedida do Site do Vinho Brasileiro. Não sentiremos saudades.
Obrigado por seguir meu blog espero que lhe agrade . Já estou seguindo seu blog. Quanto aos links ok podemos fazer sim
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